Medo Imortal

O livro Medo Imortal, da Darkside Books, me foi indicado pela amiga Ana Resende – em breve ouviremos falar mais dela e suas traduções e achados – o livro inclusive é dedicado à ela. É uma coletânea de contos que inclui autores que fizeram parte da Academia Brasileira de Letras (ABL) e deixaram sua marca no gênero do horror da literatura nacional. A organização do livro foi feita por Romeu Martins que, na minha opinião, fez um trabalho maravilhoso – comento mais abaixo com detalhes.

Como sempre a Darkside nos surpreende com seus projetos visuais. A lombada, de fundo preto e com arabescos dourados em alto relevo, também traz caveiras igualmente douradas, alusão às conhecidas caveiras da marca da editora. A capa e contracapa trazem os arabescos dourados da lombada com a adição de mais elementos, como a caveira, a águia bicéfala e a coroa, dando um tom austero e, assim, conversa diretamente com a ideia da ABL. Um livro que, ao pegar e sentir em suas mãos, faz o curioso manuseá-lo e explorá-lo em uma experiência única que te convida sutilmente à abertura do livro e à própria leitura. 

Internamente as ilustrações de autoria de Lula Palomanes, sejam dos Imortais da Academia como as que ilustram algumas páginas, são um presente visual harmonizando perfeitamente ao projeto. Não sou um profissional da área, mas são estas as minhas impressões sensoriais que este livro me trouxe.

Vamos agora passear pelo trabalho de Romeu. A Introdução que ele faz é uma recepção ao leitor e cativa imediatamente. Sintetiza o planejamento do livro e vai além criando em nós empatia pelo projeto como um todo. Porém é no momento em que conta a história de Júlia Lopes de Almeida que me ganhou completamente. Não ouso melhorar as palavras dele que, em linhas gerais, presta a homenagem necessária à mulher Júlia Lopes, idealizadora da ABL e injustiçada à época por ser mulher e portanto desprovida de um assento na Academia que ajudou a criar. Nesse momento me lembro que queria devorar o livro o quanto antes para chegar em seus textos. Esse detalhe é sem dúvida alguma o melhor desta obra não desmerecendo nenhum imortal ou mesmo a própria Júlia Lopes. Parabéns Romeu pelo trabalho ímpar, elegante e principalmente poético que você faz neste livro. Você me convidou para uma viagem e estou maravilhado por tê-la feito.

Para quem achava que após isso tudo nada mais poderia ser dito, vamos falar dos autores ou melhor ainda, deixemos que Romeu nos apresente à eles. O livro, afinal, é uma estonteante visita guiada através dos anais do horror nacional. Os comentários sobre cada Imortal nos ambientam sobre a época e os pensamentos de cada um de maneira fácil, o que é uma marca do texto do organizador. São estes pequenos comentários que nos fazem ler com mais ímpeto cada um deles entendendo-os com clareza. São traçados vários comparativos muito bons que conseguem, ao mesmo tempo, ancorar os leitores antigos do gênero com suas referências prévias bem como dar aos novatos um norte sobre o que procurar de similaridades entre autores já conhecidos, sejam nacionais ou estrangeiros, atuais ou não. Torna-se então muito mais do que uma simples coletânea ganhando ares de um excelente guia do gênero.

Recomendo essa obra brasileira à todo amante da literatura, pois deveriam ter em casa mesmo que não seja apenas pelo olhar de amante do gênero do horror, mas como arte da cultura brasileira. É um livro muito bem feito em sua concepção e, ao mesmo tempo, muito gostoso de ser lido.

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