Raphael Montes é um conhecido escritor policial brasileiro. Seus livros não se limitaram ao mercado nacional tendo alcançado vários mercados internacionais em várias línguas. Sou leitor e fã de seus livros e começar falando dele com certeza lhe fará pensar do porque citar um autor policial em um blog de horror. Tenho para mim, que em muitos de suas criações o horror está presente. Não o horror fantástico e sobrenatural, mas o horror psicológico que existe nas ações de seus vilões contra suas vítimas. Ainda que seus livros sejam classificados na literatura policial, na minha opinião, é nítido o flerte com o horror em suas obras, mesmo que de forma inconsciente.
Há pouco tempo tive a oportunidade única de assistir ao debate A Literatura de Terror no Cinema, com a tradutora Regiane Winarski, o escritor Raphael Montes e os curadores do evento, Rita Ribeiro e Breno Lira Gomes, na mostra Stephen King: O medo é o seu melhor companheiro, que aconteceu no CCBB em julho e agosto de 2019. Foi muito enriquecedor poder assistir uma palestra de alto gabarito como essa, me ajudando a aprofundar mais minhas reflexões.
Conversando com Raphael Montes antes do evento fiz a seguinte provocação para ele: poderíamos falar que suas obras literárias são também obras de horror? Ele me respondeu sem titubear que é o gênero policial que ele domina, mas o gênero do horror é um gosto adquirido há pouco tempo, porém ainda desconhecido. Fiquei com isso em mente e entramos para o evento.
Durante a palestra, a discussão sobre Stephen King acabou nos levando à mesma reflexão sobre as fronteiras do horror e outros gêneros literários, como o policial, visto que King faz uma nítida viagem por vários gêneros. Minha amiga Frini Georgakopoulos levantou essa pergunta aos palestrantes e, mais uma vez, me vi na busca de entender as fronteiras dos gêneros literários.
Montes tomou para si a tarefa de nos mostrar que essas fronteiras literárias não são muros intransponíveis, mas na verdade campos abertos. Os autores se utilizam das ferramentas de outros gêneros para engrandecer seus textos e ressaltou como isso é muitas vezes necessário para a criação da pegada ou da marca de um escritor. Além disso, ele frisou que o horror traz em si um incômodo que acaba por gerar reflexão no leitor, uma ferramenta muito importante que evidencia o fundamento das minhas percepções.
Volto então à minha reflexão sobre a dose de horror nas histórias de Raphael Montes. Exatamente pelo domínio absoluto dele sobre o gênero policial somado ao trânsito de seus personagens, principalmente os vilões, no gênero no horror seja o que me faça gostar tanto de seus livros. O horror se torna um fino tempero em suas histórias policiais, criando suspense e em vários momentos deixando o leitor sem respostas claras a todas as perguntas em aberto (outra marca registrada do horror) que não pedem muitas explicações. Penso ainda que se ele dominasse mais o gênero horror talvez não fosse tão bom (ou seria, visto sua competência, risos). Essa dúvida só seu próximo livro poderá nos elucidar, o qual, pelo que ele disse, será bastante assustador. Já estou curioso com certeza.
Concluo que muitos gêneros literários podem facilmente fazer essas incursões ao horror utilizando-o como ferramenta que auxilie a prender o leitor à trama ou lhe provoque reflexões, visto que o questionamento proposital do horror tira qualquer um de um local confortável.
Não acho que essa conversa pare por aqui, mas já temos algum material bom para refletirmos tomando um café. Desta vez coloco uma dose de whiskey dentro para aumentar o ponto de reflexão. Quanto mais leio, mais me apaixono pelo tema, e mais quero ler!
Vida longa à literatura!
Vida longa à reflexão!
Vida longa do horror!
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Reflexões pertinentes.
Questões como as que trouxe na matéria nos ajuda a expandir as possibilidades no gênero. Desprender de certas amarras e receitas.
É bom vermos como o horror é plástico como gênero se adaptando aos demais.