Ontem saiu o trailer do filme A Cor que caiu do céu, inspirado no conto homônimo de H.P. Lovecraft, estrelado por Nicolas Cage e Joely Richardson, com roteiro e direção de Richard Stanley. Se não viu o trailer ainda, veja abaixo:
Imediatamente após seu lançamento, os fãs do mestre do horror cósmico se dividiram entre os que adoraram e os que odiaram o trailer pelas redes sociais e grupos de WhatsApp.

Eu já tinha lido o conto há muitos anos e vi o trailer. Antes de opinar, resolvi que o melhor era reler o conto! Certos textos sempre valem ser relidos e, novamente, apreciados. Definitivamente A Cor que caiu do céu é uma dessas jóias literárias. Tive hoje, durante releitura, a mesma sensação que senti em 2007, quando li.
O conto é todo escrito em primeira pessoa por um narrador, que não se apresenta em momento algum, relatando o que ouviu do velho Ammi Pierce, uma testemunha dos fatos que ficaram conhecidos como “Dias Estranhos”. A história fala sobre a queda de um meteorito na fazenda da família Gardner, nos arredores de Arkham, e os estranhos fatos que se desenrolam para Nahum Gardner e seus familiares, assim como para o próprio Ammi Pierce, amigo da família.
A leitura desse conto é maravilhosa exatamente pela atmosfera de horror criada. O ar de mistério permeia cada página deixando o leitor envolvido a cada parágrafo. Lovecraft nos presenteia com um dos mais assustadores relatos de horror que agradará muitos amantes de ficção científica. Muito do que ele escreve é ficção científica – ou possui elementos muito fortes do gênero – tendo sempre como tônica o horror. Na história nada é explicado – uma característica forte do estilo do autor – restando aos sobreviventes as atrozes dúvidas que corroem a mente e o espírito.

Revendo o trailer, que coloca a história em um tempo presente e não na época do conto, já temos algumas modificações. Tudo o que foi mostrado no vídeo me lembra mais uma história de monstro do que a dura narrativa de Lovecraft, onde sentimos apenas uma atmosfera terrível carregada de horror cósmico. Acredito que se o filme seguir no rumo do que me pareceu, não teremos uma experiência como a que esperamos que seja.

Conversei sobre o trailer com algumas pessoas. Dan Paskin não gostou do trailer e, para ele, acaba com o conto. Sua opinião se baliza na questão de ter ficado hollywoodiano demais, o que não me incomodou. Ele acrescenta que tudo ficou explícito demais e nisso concordamos. Um dos grandes feitos do conto é ser sutil e manter uma aura de ignorância para os personagens e para o leitor também.
Já a escritora Larissa Prado levantou uma questão importante: iluminação. No conto, a todo momento, a iluminação é indefinida e ninguém consegue dar uma explicação plausível – ou que nos explique – qual cor exatamente foi vista. Esse ponto exemplifica bastante o motivo pelo qual é tão difícil retratar o horror cósmico, conforme ela mesmo me relembrou. Como explicar uma cor que não é uma cor inteligível? São desafios que qualquer filme que tente retratar essa atmosfera vai passar. Comentamos que qualquer explicação ou humanização (não deixo de me lembrar do poema O homem; as viagens de Carlos Drummond de Andrade ao usar essa expressão) do horror cósmico acaba na possível banalização e destruição do mesmo.
Marcelo Augusto Galvão comentou que devemos levar em consideração que é apenas um trailer. O filme, por ser uma mídia diferente da original do conto, acaba trazendo a necessidade de que escolhas sejam feitas. Ele ainda lembrou que a cor púrpura traz o simbolismo do misticismo, de magia, espiritualidade e mistério e é muito interessante de entender o motivo dessa escolha. Ele lembrou, também, que o conto trata de decadência, inexorável e vagarosa, e, na sua opinião, as escolhas de Nicolas Cage e Joely Richardson podem ter sido feitas possivelmentepor isso, mas é apenas impressão pessoal dele. Eu concordo com ele neste ponto, pois já vimos isso acontecer no cinema, como foi o caso de Robert Downey Jr. e o filme Iron Man.

Vi muitos comentários esperançosos pelo sucesso do filme nas redes sociais. Todos os fãs, eu inclusive, queremos ver uma série de filmes de grandes orçamentos sendo feitos. Entendo que qualquer nova iniciativa aqueça os corações dos milhares de fãs e vamos esperar a estréia.
Pessoalmente, percebi que minhas expectativas baixaram bastante. Para quem não leu o conto, valerá a história horror inimaginável. Para quem leu, provavelmente, ficará o sentimento que poderia ter sido feito algo mais próximo da história original. Agora é esperar a estréia para ver e poder opinar com mais propriedade.
Enquanto isso, sigamos nas nossas leituras. Deixa a sua opinião nos comentários que vamos conversar mais.

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Eu to apostando nesse filme, mesmo sabendo que vai ser ultra Hollywoodiano. Os tons de violeta e púrpura já estiveram presentes em Die Farbe, e com a sua explicação desses tons serem místicos, achei bem apropriado. Essa última foto é fantástica!
Todos estamos esperando que seja bom mas já estou com o pé atrás. Porque não manter no passado? Será que em preto e branco não funcionaria muito bem?
Quando estreia o filme?
Sensacional um filme do HP, já é um começo!
Pelo IMDB o lançamento é de 20 de Janeiro de 2020. Com certeza já é um começo.
A matéria na íntegra ficou ótima, Gárgula. Muito bacana trocar essas figurinhas. Realmente o Galvão trouxe essa informação bem pertinente sobre o misticismo em torno da escolha da cor.
Toda adaptação acaba modificando o texto original mesmo, não tem como não modificar para atender a linguagem do cinema. Mas vamos ver como ficou o filme. Só acho que as pessoas deveriam ler o texto antes da experiência cinematográfica.
Concordo que a leitura é muito importante para traçar paralelos e conseguir uma melhor avaliação. Obrigado por estar por aqui!
Lovecraft é, talvez, o autor mais adaptado para o cinema com dezenas de filmes baseados na sua obra. A palavra chave é “baseados” pois poucas (ou nenhuma) das adaptações são próximas do original. Infelizmente parece que esse será mais um caso. O filme pode até ser bom, mas parece ser, no máximo, “inspirado” no conto de Lovecraft.
Os produtores já disseram que vão fazer também o “The Dunwich Horror” e citaram algumas referências bizarras. Sinceramente não estou empolgado.
Bom te ver por aqui meu amigo. Também estou com expectativas baixas até mesmo pela dificuldade de fazer o horror cósmico. Apareça mais camarada.
Trazer a obra de Lovecraft para o século 21 tira toda a aura de mistério e arcaísmo que ela evoca. E o preto e branco seria uma melhor escolha para a atmosfera.
Mas essas adaptações fogem tanto ao original, que já nem é possível definir qual ótica melhor se encaixaria aos elementos.
Pessoalmente, eu fico com Die Farbe (2010) e The Whisperer in Darkness (2011).
Concordo com você Moisés. Essas outras adaptações não vi mas vou buscar assistir.