Uma leitura valiosa
Termino de ler O Necromante: uma História Fantástica de Fontes Orais e Escritas, de Lorenz Flammenberg, publicação da Editora Sebo Clepsidra e Editora Aetia e me vejo completamente estupefato. Ademais, foi meu primeiro contato com o gótico alemão. Como quem nos acompanha sabe, faço minhas pesquisas informais através do gótico para melhor entender o horror moderno. Sem dúvida, esse livro me revela não só sua influência sobre o horror, mas também demonstra sua influência no gênero policial.

A história de O Necromante
Nessa obra temos o encontro de dois grandes amigos, Hermann e Hellfried, após trinta longos anos de separação. O encontro mostra uma amizade muito forte de ambos, similarmente à uma irmandade. Eles colocam os fatos que viveram em suas vidas, enquanto separados, na busca de retomar o tempo perdido. Entretanto, após alguns dias de muita conversa, os dois se percebem testemunhas de fatos curiosos acontecidos perto da Floresta Negra. Inesperadamente, é que ambas as histórias possuem paralelos que dão ao leitor inúmeras visões dos fatos que ali ocorreram.
A história se divide em duas partes: uma narração oral e, na segunda, um relato escrito. Percebemos no texto a visão de época, lembrando que estamos falando de uma obra de 1792. A saber, em um dos momentos se discute banalmente sobre os níveis de tortura que eles utilizarão para se conseguir uma confissão, prática aceita na época e que para nós causa, no mínimo, estranheza.
Refletindo sobre o gótico alemão
Percebo como o gótico alemão é inegavelmente rico. Ele nos leva do sobrenatural ao realismo em uma mesma narrativa. Antes de mais nada, isso é tão poderoso que nos momentos finais não pude deixar de lembrar de um personagem bem mais recente – um vilão que gosto demais exatamente pela sua inteligência superior – Fu Manchu. Este personagem é uma criação de Sax Rohmer e muito semelhante ao Necromante de Flammenberg, utiliza mil estratagemas brilhantes e intrincados para alcançar seus objetivos. Suas incursões, ataques e fugas são certamente incríveis, criando uma aura mística que permanece por onde ele passa, para só então ser desconstruída a muito esforço pelas forças policiais.

O sobrenatural explicado
Fiquei tão feliz com minhas descobertas. Não pude deixar de trocar uma ideia sobre o livro com Cid Vale, do Sebo Clepsidra. Enquanto ele agregava mais informação sobre a importância do gótico alemão e sua influência histórica, me vêm à mente a crítica que H. P. Lovecraft faz à Ann Radcliffe (influenciada pelo “sobrenatural explicado” do gótico alemão), dizendo que o excesso de explicação de seus textos atrapalha o tom sobrenatural de suas histórias, mesmo reconhecendo sua grandiosidade (O horror sobrenatural em literatura).
A crítica de Lovecraft só se sustenta se olharmos apenas do ponto de vista do horror. Para ele, entretanto, o gênero do horror não carece de explicação para os fatos sobrenaturais que ocorrem. Isso inclusive dá alicerce à atmosfera que acaba sendo gerada. Acredito entretanto que o gótico não devemos analisar apenas por esse prisma. Nesse ponto, olhando o gótico alemão, percebo que ele é o tronco de onde bifurcam ambos os gêneros literários do horror e do policial.
Voltando ao livro
Essa narrativa utiliza uma apresentação sobrenatural inicial que ambienta o leitor em uma situação sobrenatural envolta em mistérios. A história segue para uma série de elucidações dos fatos anteriormente apresentados, desconstruindo o transcendental e deixando-o crível, ganhando assim traços que podemos encontrar em histórias detetivescas.

Retorno então ao paralelo que fiz com Fu Manchu, de Sax Rohmer. Suas aventuras possuem a mesma construção, caminhando inicialmente pelo sobrenatural, em cenas as quais o leitor pode apenas tentar conjecturar sua execução, até que esforços hercúleos consigam então explicar os fatos. Não sei se Rohmer teve acesso à obra de Flammenberg ou Ann Radcliffe, mas certamente alguma influência, mesmo que indireta, é possível identificar em sua criação. A literatura tem esse poder de permitir correlações aparentemente distantes.
Vale ressaltar que o prefácio do Cid Vale no livro é uma pequena e valiosíssima aula sobre o gótico alemão em suas origens e importância. Quem assina a tradução é Lucas de Souza Cartaxo Vieira.
Conclusão
Nada como a curiosidade para nos atiçar a alma. Em minhas pesquisas sigo por inúmeros livros e autores, antigos e novos, que vão me mostrando aos poucos como foi forjado o que hoje chamamos de horror.
Talvez agora vocês entendam porque fiquei completamente estupefato com a leitura que fiz. Livros como O Necromante: uma História Fantástica de Fontes Orais e Escritas, de Lorenz Flammenberg, me mostram que o caminho que estou trilhando está certo. Uma leitura com mais de duzentos anos, capaz de, nos dias de hoje, se mostrar absolutamente útil e necessária.
Parabéns à Editora Sebo Clepsidra pela publicação. Flammenberg com certeza ficaria surpreso em saber que seu livro, tantos séculos depois, permanece lido em paragens de além mar!
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Fiquei ainda mais curioso depois da resenha! Esse vai entrar na compra de livros do próximo mês.
Para você que é escritor é sim um livro que vai te acrescentar muito!
Estou com esse livro na meta de leitura. O gênero gótico é fascinante.
Moisés, depois que finalizar sua leitura, volte aqui para deixar suas impressões! Vamos trocar uma ideia pois o livro permite muita reflexão.