Um parque assombrado
Na análise do Canto do King de hoje trago um livro que está entre as publicações mais recentes do autor: Joyland, de Stephen King. Publicado em 2013, Joyland aborda uma história melancólica sobre perdas e amadurecimento. A edição da Editora Suma foi traduzida por Regiane Winarski.

Diferente dos livros que estávamos analisando, principalmente, nos anos 90, Joyland reflete o teor que cerca as obras atuais escritas por King. É um livro de terror, mas em grande medida os elementos de terror são abordados pelo viés de sentimentos como melancolia, desesperança e dor.
Joyland me faz lembrar do filme “The Funhouse” (Brasil: Pague para Entrar, Reze para Sair) dirigido por Tobe Hooper, lançado em 1981. Não sei se Stephen King teve algum tipo de inspiração no filme, mas não duvido. Pois, King é um cinéfilo e suas narrativas têm muitas referências cinematográficas.
Deixando os pormenores de lado, vamos acompanhar a rápida história de Devin Jones no parque Joyland, em 1973. Para tentar se curar da sua primeira desilusão amorosa, Devin afasta-se da sua cidade natal e tenta algo novo durante o verão.

Recordações de um verão em 73
O livro é narrado pelo próprio Devin Jones que relembra como foi o seu verão em 1973, quando era apenas um universitário de 21 anos. Devin é escritor, e a todo momento comenta que não tem tanto talento para narrar sobre os fatos bizarros que vivenciou enquanto trabalhava em Joyland.
Para esquecer a primeira namorada Wendy Keegan, que se mudou para outra cidade depois que foi aceita na universidade, Devin arranja um emprego temporário em um parque de diversões.
O que era para ser apenas uma temporada de verão corriqueira, trabalhando e juntando dinheiro para a vida adulta, se transforma num verdadeiro inferno. No passado, a jovem Linda Grey foi morta em um dos brinquedos do parque e Devin começa a se envolver com esse caso.
Um parque não tão divertido
Confesso que Joyland foi uma das leituras menos prazerosas que fiz do autor. Por quê? A princípio, o livro me pareceu arrastado, os fatos não engrenam e quando isso acontece é tão previsível que você só não fecha o livro e desiste porque King consegue te instigar a descobrir o que de fato aconteceu em Joyland.
Devin divaga em muitas ocasiões sobre seus anseios juvenis, o que para mim se torna cansativo. Principalmente, depois que ele descobre que um assassinato aconteceu no parque. Ao invés de focar nesse fato: a assombração do parque e a morte da garota, muitas vezes, Devin passa várias páginas focado em suas divagações sobre relações interpessoais.
King introduz aspectos fantasmagóricos no Horror House, onde Linda Grey foi morta no passado. E todos dizem que o parque é assombrado por isso. Devin acaba se envolvendo com a investigação sobre esse assassinato com a ajuda da sua amiga, que trabalhou com ele em Joyland, Erin.
Uma história sobre fantasmas
Mais do que uma história de suspense sobre um psicopata e suas vítimas, Joyland é uma história sobre fantasmas. Tanto o fantasma de Linda que assombra o local da sua morte quanto os fantasmas metafóricos do passado de Devin.
Enquanto escreve a história, ele consegue exorcizar antigas dores, como é o caso da sua paixão por Wendy. Ele utiliza a escrita como forma de se compreender e enterrar de uma vez por muitas questões inacabadas do seu passado.
Quando conversei com alguns leitores desse livro, disseram que é uma das histórias mais autobiográficas do autor. Não sei até que ponto Joyland pode configurar entre a história “mais autobiográfica” de King.
Talvez, essa ideia ocorra porque Devin é um escritor e tenha vivido sua juventude nos mesmos anos que o autor. Mas é certo que toda história sempre terá traços biográficos de quem escreve.
O próprio Jack Torrance de O Iluminado (leia nossas resenhas aqui e aqui) tem traços biográficos de King. Na maioria das vezes, esses aspectos são tratados de forma metafórica, poucos enxergam a não ser os leitores mais atentos e que conheçam, minimamente, a biografia do escritor.
Pois, King, assim como tantos outros escritores de ficção, escreve a fim de exorcizar seus demônios internos. Devin faz o mesmo quando compreende os seus reais sentimentos da juventude e o que o levou a agir como agiu enquanto rememora os fatos.
Joyland e o sobrenatural
Devin segue contando sobre o período que passou na cidade de Heaven’s Bay, onde ficava o parque de diversões e dentre suas lembranças está o breve relacionamento que teve com a mãe solteira Annie e seu filho com graves problemas de saúde, Mike.
Mais uma vez, King deposita em uma criança o poder de alterar o rumo dos acontecimentos levando a narrativa para o sobrenatural. Mike tem dons mediúnicos, é ele quem sonha com a falecida Linda Grey e é quem a vê de fato no Horror House quando vai até lá a convite de Devin.
A relação entre Annie e Devin é doce e muito bem explorada. Embora Annie tenha entrado na história para ser o elo entre o Devin da juventude e o homem da vida adulta, seu papel na trama está mais ligado ao assassino de Linda Grey. Pois, o assassino ameaça a vida de Annie e do filho para atrair Devin ao seu encontro. Annie é introduzida para ser o ponto vulnerável de Devin na história. Enquanto em Mike recai o aspecto sobrenatural.
Quem matou Linda Grey?
Joyland é o típico parque de diversões onde as crianças adoram visitar. Cheio de gírias típicas desse universo e de personagens caricatos. Lane é um dos funcionários do parque e foi aquele que mais acolheu Devin quando ele chegou para trabalhar. Ensinando tudo o que tinha de saber sobre a rotina do trabalho e os estranhos costumes de cada funcionário.
Devin fez de tudo em Joyland, desde limpar os brinquedos a se fantasiar de cachorro e alegrar a criançada e foi Lane que o ajudou com tudo isso.
A despeito de uma trama de suspense fraca, Joyland é encantador por se passar nessa atmosfera divertida e ao mesmo tempo sombria de um parque de diversões de uma cidadezinha pacata. King acerta em cheio ao ambientar a história nesse cenário e construir bem cada um dos personagens secundários que deram vida ao parque.
Em algumas passagens, quase podemos ouvir a música de parque de diversão mesclada aos gritos da criançada e sentir o cheiro da pipoca e cachorro quente no ar. É mágico!
Porém, quando aproximamos do final do livro descobrimos que o psicopata responsável pela morte de Linda Grey e de outra garota em outro estado é Lane, um dos antigos funcionários do parque. Ele é um mestre na arte do disfarce e por isso enganou a todos durante tanto tempo.
O leitor ficará boquiaberto com esse plot twist, mesmo assim, não consigo levar Joyland a sério como outras grandes obras de King analisadas aqui. Algo no desfecho da história me remeteu um pouco à atmosfera dos episódios de Scooby Doo no qual o bandido esteve sempre debaixo do nariz da turma de investigadores e do telespectador e nunca percebemos os sinais.
Apesar de tudo… Joyland vale a pena
Sim! Joyland é uma leitura rápida, vale a pena. Porque é mais do que uma história sobre crime, assombração e um psicopata sedento de sangue.
Devin Jones, depois de sua rememoração dos fatos sombrios, nos mostra que o garoto Mike, que acabou morrendo em decorrência do estado de saúde frágil, era diferente de todas outras crianças. Ele podia “enxergar” através dos sonhos mediúnicos e ajudar às pessoas à sua volta a serem melhores. Devin nos conta uma história de terror, mas também uma história sobre superação e amadurecimento.
É um livro diferente, cheio de suspense e drama, não tem a presença da Coisa ruim que acompanhamos nas obras anteriores. Não há presença de cenas violentas, a não ser a morte de Lane na roda-gigante enquanto confronta o inexperiente detetive Devin Jones. Se você gosta de uma leitura mais suave, cheia de reflexões e com boas pitadas de amor juvenil, vai adorar Joyland.
É como costumo dizer, Stephen King acaba agradando a todos os gostos porque é um escritor que se arrisca em tudo, escreve sobre tudo. Caso você tenha lido algum livro dele e não tenha lhe agradado, recomendo que conheça Joyland. Com certeza, no vasto cardápio de histórias do King, existirá alguma que agradará o seu gosto. Quem sabe não seja Joyland?
Até a próxima segunda-feira, pessoal! Espero vocês para mais uma análise de obra do Stephen King.
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Um dos meus favoritos do Mestre,resenha meio rasa s sua…
Os livros muitas vezes não batem para uns como batem para outros. Bem normal isso. Quais os pontos que você acha forte no livro?