Os livros que são uma janela ao passado
O livro O Vampiro, de John William Polidori, decerto não é o primeiro e não será o último ao qual tecerei elogios rasgados à Editora Sebo Clepsidra e à Editora Aetia. Afinal seus livros trazem tal acúmulo de informações que enquanto leio tenho a real sensação de estar abrindo uma janela antiga.

Não podemos esquecer do projeto gráfico, inegavelmente belíssimo, que nos cativa. A pintura da capa é de Antonio Ambrogio Alciati. Uma obra que certamente faz jus à efeméride dos 200 anos da história O Vampiro.

Temos textos em três idiomas traduzidos no miolo desta obra. A tradução do francês foi feita por Bruno Anselmi Matangrano. Já a tradução do alemão fica na responsabilidade de Felipe Vale da Silva enquanto Marina Sena é a tradutora dos textos em língua inglesa.
Porque gosto tanto das edições da Clepsidra?
Muitos fatores vêm à mente enquanto penso nessa resposta. Dentre eles, certamente está o cuidado que eles têm na elaboração de um projeto editorial, que não se resume em apenas apresentar uma história. Decerto não se limita somente a trazer ao leitor brasileiro um arcabouço de histórias, assim como com ela dar o embasamento histórico necessário, aliado à beleza gráfica. São fatores que fazem de seus livros verdadeiras peças de referência no mercado.
Os extras pensados e incluídos inegavelmente darão base ao leitor para viajar nesses duzentos anos e observar um mundo antigo, muito distante de nós. Portanto, essa janela do passado é um convite ao conhecimento e ao deleite. Vamos assim comentar sobre alguns desses textos abaixo.
Prefácio, por Bruno Anselmi Matangrano
Talvez uma marca já reconhecida da editora seja a qualidade de seus prefácios. Aqui Bruno Anselmi Matangrano analisa a figura do vampiro e mostra como foi alterada no tempo. De antiga lenda ao atual devaneio utópico de imortalidade, o texto traça o caminho do mito e sua influência sobre a história. Incrível como a figura vampírica consegue fascinar tanto as pessoas até os dias atuais.
O Vampiro
Chegamos agora ao objeto principal da nossa resenha. O texto de Polidori compreende um pequeno prefácio em carta que o localiza temporalmente na Vila Diodati. Vemos o desafio feito por Lord Byron à seus amigos, inclusive o próprio Polidori, seguido do estranho relato do vampiro.

A história segue e temos então o aparecimento do estranho Lord Ruthven na vida do jovem Aubrey. Este luta para entender e fugir da sina terrível da criatura sobre si e sua família. Impossível não perceber a influência do relato de Polidori em Drácula, de Bram Stoker (leia nossa resenha aqui). Aubrey é como uma versão original de Jonathan Harcker e obviamente Lord Ruthven é a semente maldita do vampiro de Stoker.
Inúmeras e importantes cartas
Fica bastante claro como Polidori tentou de todas as maneiras fazer parte daquele grupo que veraneou na Vila Diodati sem qualquer chance de sucesso. Ao final ele não era bem quisto ali de forma alguma.
Esse não foi seu único revés e estas cartas nos mostram isso. Durante sua vida ele se mostra uma pessoa bastante perdida. Essa condição perdura até seu suicídio por envenenamento. Em suma vemos tudo isso através das várias cartas, de autores variados, nos dando assim alguma ideia de quem era o autor e sua triste sina.
Posfácio, por Marina Sena
Depois de passar pelas Cartas bastante reveladoras temos o posfácio de Marina Sena. Nele fica ainda mais reforçada a visão de que Polidori era um estranho em meio aquele grupo que se reuniu na Vila Diodati.
Impossível não ter pena do pobre homem enquanto percebemos que suas tentativas sem sucesso acabaram por isolá-lo cada vez mais.
Fragmento, de Lord Byron
Se tudo no entorno de O Vampiro se mistura entre fatos e mito, ao adicionar o fragmento escrito por Lord Byron, isto se acentua. Foi deste suposto fragmento que Polidori se inspirou na criação de seu conto.
É muito interessante ter este texto aqui para percebermos a dimensão de como se originou toda a controvérsia histórica envolvendo seus autores. Um conto sinistro, sem sombra de dúvida, e que precisa ser lido, para ganharmos o entendimento do que ocorreu.
Outros contos
O livro apresenta ainda outros contos de vampiro diretamente influenciados por O Vampiro. Mesmo sem o reconhecimento de sua importância como obra ele solidifica a visão do vampiro, tal qual conhecemos hoje. Polidori provavelmente nunca imaginaria como sua pequena obra ganharia tal importância histórica.
Dos contos extras gostei muito de O Vampiro Negro, uma lenda de São Domingos, de Uriah Derick D’Arcy e também de A Noiva das Ilhas, que é de autoria desconhecida.
Seios diabólicos e outros delírios: Reimaginações fílmicas de Villa Diodati, por Carlos Primati
Aqui temos uma análise incrível de como aquela histórica noite na Villa Diodati é lembrada no cinema. Suas adaptações são inúmeras e Carlos Primati traça todas as vezes que aquele momento histórico foi eternizado no cinema. Uma aula com cara de bate-papo, daqueles que você fica anotando as dicas enquanto toma uma cerveja. Perfeito!
Conclusões finais
Em suma este livro é um verdadeiro compêndio da origem do vampiro, tal qual o conhecemos hoje. Se não definitivo, por certo insubstituível, não só por sua importância como também por sua riqueza em informação. Um bicentenário comemorado da melhor forma que certamente se eternizará em nossa literatura!
O trabalho da Editora Sebo Clepsidra se firma como uma referência importantíssima no que tange o ensinamento e recuperação do gênero gótico em nosso país. A Coleção Imaginário Gótico já é vital aos pesquisadores, apaixonados e interessados neste tipo de leitura. O mais legal disso tudo é que eles não têm a menor intenção de parar.
Boa leitura!
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